15.11.08

Critica as pseudo novelas adolescentes

A SIC montou uma gigantesca campanha de promoção para a sua nova
série/novela/monte de merda, que dá pelo nome de Rebelde Way.
Depois de anos a apanhar bonés, percebeu que a melhor maneira de
combater a morangada da TVI era...imitar. É lógico. Era inevitável.
Depois de 20 minutos a ver a nova série (o que me provocou uma crise
de cólicas da qual só um dia depois começo a recuperar) sinto-me
preparado para uma análise.

Bora lá.

A fórmula é a mesma nos dois canais. Aqui fica a receita:
1 - Pitas boas. Muitas, quanto mais descascadas melhor (as séries de
verão são, naturalmente, as melhores, porque eles vão todos juntos
para a praia).

2 - Gajos 'estilosos'. A coisa divide-se em dois: há aqueles que têm
quase 30 anos mas fazem de adolescentes, e depois há os que são mesmo
adolescentes. Estes últimos são aqueles que se levam a sério enquanto
'actores'. O requisito essencial para qualquer gajo que entre nestas
séries é ter um penteado ridículo.

3 - O Rebelde Way tem gajas do norte. Fazem de gajas daqui, mas aquele
sotaque é fodido de perder. Fica ridículo, mas as gajas são boas.

4 - Nos Morangos, a palavra 'pessoal' é dita 53 vezes por minuto,
normalmente inserida nas frases 'Eh pá, pessoal!', no início de cada
conversa, ou então 'Bora lá, pessoal', antes do início de qualquer
actividade.

Agora vamos à bosta que a SIC acabou de parir, com pompa,
circunstância, varejeiras e mau cheiro.

Chama-se Rebelde Way. Cool, man! O slogan dos Morangos era 'Geração
Rebelde', mas a inspiração deve ter vindo de outro lado, de certeza. O
que me irrita na poia da SIC é que os gajos são todos betinhos (até os
mânfios são todos giros e cool e com uma caracterização ridícula, como
se fossem a um baile de máscaras vestidos de agarrados ou arrumadores
de carros). Mas depois são bué rebeldes. São bué mauzões, man! A
brincar com os seus iPhone, com as suas roupinhas fashion, grandes
vidas, mas muita mauzões.

Se há algo que esta geração de morangada não pode ser, não tem direito
a ser, é ser rebelde. Rebelde porquê, contra quê? Nunca houve
em Portugal geração mais privilegiada do que a actual, à qual esses
putos pertencem. Nunca qualquer puto teve tanta liberdade e tanta
guita no bolso como esta malta. Nunca as pitas foram tão boas e tão
disponíveis para foder com a turma inteira como agora. Nunca houve
tamanha liberdade de mandar os pais à merda e exigir uma melhor mesada
porque é altura dos saldos. Rebelde porquê? Em nome de quê?
É claro que isto são pormenores com as quais as novelas não se
deparam, nem têm de o fazer. O objectivo é simples: para uma geração
tão privilegiada como aquela que é retratada, há que criar uma
rebeldia fictícia, porque não é cool ser dondoca aos 16 anos. Mas é o
que todos eles são.

Há uns tempos vi, no Largo do Carmo, um bando de uns 15 putos e
pitas, vestidos à dread com roupinha acabada de comprar na Pepe Jeans.
Um dos putos que ia à frente, não devia ter mais de 16 anos, vem a
falar à idiota como se fosse dono da rua, saca duma lata de tinta e
escrevinha qualquer coisa de merda na parede. Todos se riram, todos
adoraram, e ele foi, durante cinco minutos, o maior do bairro. Não fiz
nada, mas devia ter-lhe partido a boca toda.

Todas as últimas gerações antes desta (incluindo a minha, a Geração
Rasca, que se transformou na Geração Crise - bem nos foderam com esta
merda) tiveram de furar, de lutar, de fazer algo. Havia uma alienação
mais ou menos real, que depois se podia traduzir nalguma forma de
rebeldia. Não era o 25 de Abril como os nossos pais. A nossa revolução
é a dos recibos verdes e da consolidação orçamental. Mas esta
morangada sente-se, devido à merda que a televisão lhes serve e aos
paizinhos idiotas que (não) a educaram, que é dona do mundo. Quando já
és dono do mundo, vais revoltar-te contra quem? E por que raio
haverias de o fazer?!
E assim vamos nós.

Com novelas de putos 'rebeldes', feitas por 'actores' cujo momento de
glória é entrar numa boys band ou aparecer de cú ao léu na capa da
FHM, ensinando a todos os outros putos que temos que ter cuidado com
as drogas (mas todos os agarrados são limpinhos, assépticos, com os
mesmos penteados ridículos), que a gravidez adolescente é má (mas
todas as pitas querem foder à grande, porque são donas da sua própria vida e
os
pais não sabem nada, etc) e que, sobretudo, este mundo lhes deve
alguma coisa.
Os tomates.
A mim e aos meus, o mundo deve alguma coisa. Aos que foram atrás da
merda do canudo para trabalhar num call center, aos que se matam a
trabalhar e são forçados a ser adultos antes do tempo. Não a esta
cambada de mentecaptos.

E depois estas séries vão retratando 'problemas sociais da juventude',
afagando a consciência de quem 'escreve' aquela merda, enquanto ao
mesmo tempo incentivam esta visão egocêntrica, egoísta e vácua desta
geração acabadinha de sair do forno.
Talvez eu esteja a ficar velho e a soar como o meu pai. Lamento se não é
cool.
Mas esta merda enoja-me.

(recebido por email)

5 comments:

Anonymous said...

Epa....recebido por email.....e eu que pensava estar perante uma pequena peça de "rebeldia" de Garras...de maduridade...de sabedoria existencial...de um Garras fora de si...autêntico! Bem....talvez um dia escreves tu um texto desse...quando fores crescido...e deixares de andar com telemoveis cor-de-rosa...LOL ;P

Marlene Lopezzz said...

Concordo e assino por baixo com tudo o que foi escrito no email, mas dgo-te já, sabes de quem é a culpa? Da sociedade, se não gostasse tanto da morangada não ia na "cagalhésima" série... além disso aquilo tem gajasss boasss pahhh :p que é o que o pessoal gosta ;) beju

Broken Horn(y) said...

Susu, de que vale "criar" coisas que ja foram criadas por outros? o e-mail nao tinha o nome de quem o escreveu, bem podia ter tomado como meu, mas quem o escreveu merece aplausos ao dizer aquilo que todos pensamos (inclusive quem lá trabalha) mas ninguem fala.
Afinal é uma fonte de rendimento certinha!!
Beijo.

Marlene, concordo com a parte das gajas boas. Alias, a unica razao que ainda n faz olhar pra tv quando a morangada esta no ar é mesmo essa..mas... nao pode ser durante muito tempo pois a minha opiniao nuda imediatamente quando olho para as roupas delas...é k muitas tem menos roupa que as strippers depois de acabarem a dança.

Beijocas

Luzinha said...

Amei este texto apesar de esr recebida por mail... grande verdade, apesar de ter aquela linguagem desagradavel! Ma nao deixa de ter as suas verdades!

Broken Horn(y) said...

Pois é Luzinha, so colei aqui o texto por dizer melhor aquilo que penso. Eu nao o teria escrito tao bem. hehehe
Obrigado pelo comentario.
beijo