Passava já demasiada noite da hora ideal quando às 03:42 decide por fim encostar a cabeça na almofada que o esperava.
Enquanto isso, força o sacudir das asas com pó pesado que se acomodou durante o dia que esteve morto e dá agora lugar à leveza, do real, que deixara de ser negro para dar lugar a um outro brilho.
Abertas as asas e esticadas as penas, aproveita o momento para inspirar enquanto toma 2 gramas daquilo, envolto em capsular de gelatina preta, isto só para acordar.
Agita novamente as asas, agora vibrantemente afectadas pelas 2 gramas e sorri ao sentir as mariposas que lhe levantam o calor de dentro.
La fora, a lua já caminhou para lá do quadrante perigoso e aproxima-se agora já da hora certa para levantar voo.
Levanta os olhos em direcção aos raios de luar fitando-o ate ao ponto em que a luz branca desiste para dar lugar aos efeitos das 2 gramas daquilo, envolto em capsular de gelatina preta, só para acordar, para agarrar e transformar a lua em calor e o escuro em aromas verdes salteados com o salgado de pedras de calçada de um ouro que não lhe faz falta.
Ao longo voo observa atentamente o mundo morto de onde acordou enquanto vive realmente o que avista pela sua perspectiva...tantas diferentes... são tantos... tão diferentes...
A transparência é onduladamente imperfeita num todo, de tal forma que lhe permite sentir aquelas asas brilhantes, só dele. Cada linha, perfeita. Cada movimento, perfeito...
Aos poucos, as 2 gramas daquilo, em preto capsular, deixa-lhe a boca seca ao perder o seu efeito e aos poucos sente-se morrer novamente ate ao momento em que as asas deixam de ter força para o manter no ar e o precipitam em direcção ao solo, agora mais escuro, mais luar...mais...morto.
Passava agora demasiado da hora em que levanta a cabeça da almofada que o sustentava enquanto esteve vivo...
Eram 03:46, apetecia-lhe morrer outra vez.